Sou uma alma amargurada, vazia e seca. Sou uma angustiada, como mulher , como útero, como ser humano. Ninguém consegue perceber as minhas angústias como pessoa. Ultrapassam-me , e ultrapassam quem me rodeia. Julgam-me feliz, bem casada. Pensam em mim e acham que não tive filhos por opção - as mesma pessoas que acham que casar é que interessa , o resto vem com isso. Ou não vem - que sabem as pessoas de mim? Nada. Ninguém me conhece, que pena. Um dia ninguém vai chorar a minha morte, nem sentir a minha falta. Ninguém consegue perceber as angústias que me invadem e me ferem sem dó nem piedade. Gostava de ser como as outras mulheres que essas sim, são felizes, não têm marido mas tiveram e pariram e sentiram dores reais, físicas. Ou então como as outras, gostava de ser como as outras que têm toda a atenção e toda a paciência daquele que ma devia dar a mim, por direito. Eu sinto as dores imaginárias de uma quase mulher feliz, de uma quase mãe, de uma quase maluca e tresloucada-que-precisa-de-tratamento.
Não tenho direitos, não tenho casa a-casa-é-minha-eu-é-que-mando, sou como uma amante escondida, fechada,limitada. Tenho marido e um corpo presente ao meu lado na cama, às vezes frio. Não tenho nada, nem sequer me tenho a mim.
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