domingo, 26 de novembro de 2006

Mário Cesariny 1923-2006

"Gostava de ter daquelas mortes boas, em que uma pessoa se deita para dormir e nunca mais acorda".

Cesariny (Autografia)



Deixo ficar um dos meus poemas favoritos " Pastelaria" declamado pelo próprio.. Nada mais me apraz dizer e não ser que o dia começou triste .

terça-feira, 21 de novembro de 2006

Curiosidade ou a arte de imaginar

Confesso desde já.  Imagino rostos, vozes, corpos,pessoas interessantes.

Conheço-os.

Imagino a que cheiram,como se vestem,de que cor têem os olhos,como cruzam as pernas, se tomam café ou chã,se acordam bem dispostas,que músicas ouvem.

Sinto essas pessoas a acordar, a escreverem histórias com palavras para que eu as leia....logo que possa. 

Sorrio quando os vejo passar por mim, no anonimato tão familiar.

Desejo tirar-lhes o véu, hesito com o receio que o encanto se quebre,que a ilusão e fantasia desapareçam e que nada seja como dantes.

Até um dia em que nada haverá a perder ou então que já não aguente mais. A curiosidade.

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

o eterno retorno

E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse:
- Esta vida, assim como tua vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há te de retornar, e tudo na mesma ordem de seqüência... A eterna
ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela,
poeirinha da poeira!
Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e te amaldiçoarias o demônio que te falasse assim? Ou vivestes alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderia:
"Tu és um Deus, e nunca ouvi nada mais divino!".
Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse; a pergunta, diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e ainda inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre teu agir! Ou então, como terias de ficar de bem contigo mesmo e com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?

(Em a Gaia Ciência (1978:208, - Nietzsche)