quarta-feira, 26 de abril de 2006

balanço positivo ??

Faz-me um bocado de confusão ouvir na rádio que houve nao sei quantos acidentes, não sei quantos mortos e feridos, mas que o balanço em relação ao ano anterior é positivo...
Hello !! Positivo?! Não podem arranjar outra palavra ou expressão...por exemplo..."foi menos negativo .."?
Parece-me que toda a gente fica muito contente por ter havido menos mortes que no mesmo período do ano passado....se calhar era mais interessante criarem-se condições para que no próximo ano não haja morte alguma..... ( tipo por exemplo abrir a cabeça ao meio e meter lá para dentro o código da estrada devidamente actualizado com os limites de velocidade e de alcool no sangue acompanhdo de educação, civismo e respeito)..... aí sim , seria um balanço positivo!
Se calhar sou só eu, ou é do calor...mas faz-me confusão caramba.

segunda-feira, 24 de abril de 2006

o escritor de canções

Gosto de Pedro Abrunhosa. No sábado ouvi-o mais uma vez (em entrevista à rádio) , é um encanto a falar, absorvo todas as palavras. Sabe o que diz e sabe dizê-lo...com uma voz que me delicia, forte...voz de pessoa segura.

Gosto de o ouvir cantar, é um escritor de canções, um fazedor de música de quem gosto particularmente. Busca a perfeição e como o próprio diz "quando todas as palavras baterem certo, fizerem sentido umas nas outras...sairá o próximo disco...."

Aguardo

Quando veio,
Mostrou-me as maos vazias,
As maos como os meus dias,
Tao leves e banais.
E pediu-me
Que lhe levasse o medo,
Eu disse-lhe um segredo:
«Nao partas nunca mais»

quarta-feira, 19 de abril de 2006

Pecados&Preconceitos

As pessoas que não têem vida própria vivem a vida dos outros.

Pois é...e quando isso acontece acham-se no direito de opiniar, de fazer juízos de valor, de comentar . Depois juntam-se e discutem a vida uns dos outros, ponderam, analizam e sabem com toda a certeza o que se passa, o que essa pessoa objecto de tão analitica análise pode fazer para mudar a vida que tem . Falam em código, pedem pormenores uns aos outros, tentam ouvir conversas telefónicas, observam as roupas,o cheiro, o rubor no rosto, os sorrisos e concluem....sempre acertadamente -claro- o que se passará. E nós temos que levar com elas porque há sempre alguém que é mais nosso "amiguinho" e nos vem contar.

Há pessoas cuja preocupação essencial é saber o que irão cozinhar ao jantar, que perfume irá sair brevemente e em que dia começam os saldos barra descontos barra promoções. Ah..e nunca se esquecem de comprar as 99 revistas cor-de-rosa que existem. Sim, porque saber quem se divorciou, quem anda com quem, ver as fotos das férias ou saber das plásticas são coisas da máxima importância e asseguram sempre noites bem dormidas.

Tristes vidas tão vazias !

Há pouco tempo apercebi-me que sou uma pecadora ( ou melhor fui informada) ...pois é ...usar a net, ler jornais e ver televisão ( Tv não vejo uffff...já sou menos pecadora )é pecado .Além disso tenho um estado civil que é "proibido", sou a favor da vida e do uso do preservativo e mais umas quantas coisas que é melhor não enumerar ( era muito maçador para quem faz o favor de ler isto LOL )

Que Mundo este!

segunda-feira, 17 de abril de 2006

as mil e uma noites

Há pouco tempo - e depois de uma conversa com um amigo , sim...tu que fizeste anos no sábado - relembrei a história das Mil e uma noites....

Dizia o meu amigo mas tu conheces a história....eu respondo sim, claro...E pronto...deu-me aquela vontade súbita de a reler...depois de alguns anos.

Agora que a reli...a história assume um significado diferente...o passar dos anos traz-me sabedoria (uff...felizmente)...

Mil e uma noites.... são muitas noites, mil é quase um sinónimo de infinito...Mil e uma noites é mais uma noite além do infinito. Parece muito não é? Mas são "apenas" quase 3 anos..

É uma história de amor, e como qualquer história de amor que se preze...esta não acaba nunca...

Vinicus escreveu Que não seja eterno posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure.

Heine escreveu Eu te amarei eternamente e ainda depois.

É preciso que a chama nunca se apague, mesmo que a vela se vá queimando...A mesma chama que o vento apaga, volta a acender-se por causa de um sopro.

Mil e uma noites é mesmo isso...é o manter a chama ....daí a história assumir muito mais do que uma história...daí a história assumir uma lição de vida .

Um sultão foi traído pela esposa a quem amava perdidamente. Ele não podía viver sem o amor de uma mulher, mas também não quería ser traído novamente.

Resolve então casar com as moças mais belas do Reino, mas a seguir à noite de núpcias mandá-las decapitar. O amor assim seria renovado dia a dia e sem qualquer infidelidade.

Xerazade ( uma bela donzela, que lía bastante...bastante mesmo ... ) mesmo sabendo da triste sorte, decide casar com o Sultão. Após a noite de núpcias....já com os corpos saciados...Xerazade decide começar a falar com o Sultão...conta histórias...

As suas palavras penetram os ouvidos do Sultão...suavemente como música. O corpo é um lugar maravilhoso de delícias ( gosto desta palavra ) mas Xerazade sa´bia que todo o amor construído apenas com base nisso será breve... a chama se apaga tão logo o corpo tenha esvaziado o seu fogo Xerazade fala, sopra suavemente, conta histórias uma atrás da outra. Não há um orgasmo que ponha fim ao desejo.

O Sultão encantado com o mundo de magia que Xerazade lhe proporciona vai adiando a execução por mil e uma noites, eternamente e um dia mais.

É preciso saber ouvir, acolher, deixar que o outro entre dentro de nós....Ouvir em silêncio. E é preciso saber falar....como música, sem qualquer pressa, saboreando as palavras e o momento.

Parabéns F. pelo teu aniversário...e obrigada pelas lindas conversas de almofada que já tivemos. Anima-te e se precisares de mim estou por aqui...ao alcance de uma chamada.

Nota : as músicas são duas porque hoje não me decidi. Há dias assim :p

sexta-feira, 14 de abril de 2006

o tigre e a neve

Vi e amei

Para rever muitas vezes

« Roberto Benigni mantém a tradição de participar nos filmes que realiza. Em "O Tigre e a Neve" é um poeta, professor, querido dos alunos. Quanto ao amor, não tem tanta sorte. Gosta de uma mulher, que por acaso na na vida real é a sua. Nicoletta Braschi mantém-se como musa de Benigni, só que neste filme a paixão comum são as letras.

Esta mulher troca Roma por Bagdade para escrever a biografia de um poeta iraquiano, em 2003, ano de invasão do Iraque e é vítima das tropas aliadas.

O pesadelo da guerra não interrompe o sonho,
o humor continua a ser uma arma para enfrentar os obstáculos de quem quer que a vida seja bela.

"O Tigre e a Neve" conta com a participação de Tom Waits, autor da canção principal do filme, " You can never hold back spring". »

Sun is red, moon is cracked
Daddy's never coming back
Nothing's ever yours to keep
Close your eyes, go to sleep
If I die before you wake
Don't you cry, don't you weep

Nothing's ever as it seems
Climb the ladder to your dreams
And if I die before you wake
Don't you cry, don't you weep
Nothing's ever yours to keep
close your eyes, go to sleep

quarta-feira, 12 de abril de 2006

desilusões

As desilusões são como os chapéus ....Chapéus há muitos seu palerma ! Para quem não saiba esta frase é dita pelo nosso saudoso Vasco Santana na Canção de Lisboa..

O que é uma desilusão ou estar desiludido ?

O sentimento desilusão é consequência de uma ilusão? Será um sentimento de desencanto?

E quem cría essas ilusões e encantos ? Os outros que nos rodeiam , a vida, as circunstâncias, o destino?

Não!

Nós...

Nós criámos expectativas em relação aos outros, sejam elas quais forem, pequenas, grandes ou exageradas ou impossíveis. Tentámos não o fazer...mas faz parte da nossa natureza ...esperar sempre alguma coisa de alguém , afinal Não há almoços grátis , e quanto maior a expectativa e a ilusão que nos é induzida ou imaginada maior a desilusão.

E quando sabemos de antemão que nos vamos desiludir com algo/alguém e mesmo assim arriscámos ? Isso é viver. No final - quando a desilusão acontece - as dúvidas desvanecem-se, ficam as certezas. Até à próxima vez em que faremos exactamente a mesma coisa...com um final diferente (ou talvez não). Isso é viver! Sem medos e sem esqueletos dentro do armário.

Não será assim?

segunda-feira, 10 de abril de 2006

Formas diferentes de olhar

O que esta imagem representa para cada um de vocês ? Olhem com atenção, vão para além do óbvio. Pensem am várias alternativas, várias interpretações e escolham aquela que faz mais sentido - neste momento.

Sim...porque amanhã esta imagem poderá representar outra coisa qualquer. Open your mind.

O meu fim de semana foi de exorcismo de mágoas. Hoje acordei liberta de medos, vergonhas, frustrações, impossibilidades. Hoje sou eu, a que sempre fui. Encontrei-me mais uma vez , (sim,tinha-me perdido) sem direcções nem orientações. Busquei-me em mim mesma. Conheço-me tão bem. Bem demais até!

( estou a ficar boa neste exercício )

sexta-feira, 7 de abril de 2006

pequeno-almoço

Ao pequeno-almoço  - a meio da manhã - somos quatro. Vamos quase sempre à mesma hora, 10..mais coisa menos coisa.  A "notificação" é feita por email Vamos ao pequeno? ...as respostas podem ser variadas pequeno?qual pequeno?ou então é já a seguir (normalmente 10 minutos "a seguir") ou ainda não posso, vão vocês (rapidamente alterado para Okey...eu vou ).


As conversas deste pequenos almoços são muito variadas, normalmente falámos de economia (pouco) de temas diversos como a pirataria e a fome no mundo(alguma coisa) e de sexo e assuntos ligados a comportamentos(muito).


Esta semana - às tantas - alguém (homem) sai-se com esta frase :


Nem todos os homens quando casam querem uma 2ª mãe!


Olhei para ele com admiração...!


Muitos homens (alguns eu conheço)têem relações estranhas com as mães. Penso que o Freud explica :) Não tem nada a ver, mas lembrei-me agora que Freud tem uma teoria que eu acho particularmente interessante A teoria das emoções - interessantíssima para um post posterior, oh yeah.




                                        


Na minha opinião nem todos os homens querem uma 2ª mãe quando casam....mas a realidade prova que a têem....são as mulheres que cozinham, são as mulheres que arrumam a casa, são as mulheres que poêm a máquina a lavar e que estendem a roupa...e mais um 100 número de coisas!


E porquê?


Porque elas querem...e eles deixam...Tão simples como isso.


E porquê querem as mulheres? Porque em muitos casos pelo exemplo dos pais, noutros porque acham que parece mal um homem na cozinha ou de aspirador na mão, ou então porque o marido até ganha mais e por isso a mulher tem que o "compensar"...enfim...


Opções de muitas ...não a minha, claro. Eu sou pela igualdade, pela divisão, sou defensora de construções a dois , com tudo o que isso implique. É-me terrivelmente difícil fazer algo por obrigação. Impossível mesmo!


De quem é a culpa ?


Da mulher-mãe, que não ensina o filho a ser autónomo, que habitua o filho a ser completamente dependente dela e pior : que o faz acreditar que assim é o correcto.


Da mulher-mulher, que ama e que gosta de agradar e mimar o marido...e por isso o vai transformando numa lontra no sofá...


Claro que nem todos os homens são assim! Reconheço isso também.

Tema com alguma polémica ...espero comentários fortes e controversos ...


Quando penso no meu blog , penso numa conversa de café, não em modo directo , mas indirectamente muito enriquecedor para mim anyway

terça-feira, 4 de abril de 2006

traumas de infância

                    

                                

Passei uma infância feliz, onde brincar na rua era um hábito, onde correr,saltar à corda, esfolar os joelhos várias vezes também era um hábito.

No entanto ganhei um trauma quando entrei para o 1º ano do ciclo ( agora 6ºano )...na altura era simplesmente a aluna mais alta de toda a escola. Isso trouxe-me alguns dissabores por ser diferente de todas as outras. Na altura chamavam-me girafa :)

Andava sempre com as costas muito direitinhas - não me vergava e nunca o fiz - sobre as secretárias. A minha mãe sempre me alertou para uma postura correcta assim como o médico ortopedista que me acompanhou na altura. (o desenvolvimento muito rápido do esqueleto provoca algum desconforto e tem que ser acompanhado)

Aos 15  já tinha 1.72 m , o que há 20 anos atrás não era muito normal numa míuda.Os meus namoraditos de adolescência eram sempre gigantescos...se calhar a atracção que me exercíam era mesmo essa - o eu ser "baixa" junto deles :p logo "normal".

A adolescência tem destas coisas...

 

When you were here before
Couldn't look you in the eye
You're just like an angel
Your skin makes me cry
You float like a feather
In a beautiful world
I wish I was special
You're so fucking special

But I'm a creep
I'm a weirdo
What the hell am I doing here?
I don't belong here

 (...)

segunda-feira, 3 de abril de 2006

norte

Um texto que me enviaram com o seguinte comentário Ele quer alguma coisa !, escrito pelo Miguel Esteves Cardoso. Brincadeiras à parte...é uma honra ser do Porto, revejo-me em muitas coisas aqui descritas, outras nem por isso já que foram sofrendo mutações ao longo do tempo. São as pessoas que fazem os locais, estejam onde estiverem.

           

Primeiro, as verdades.

O Norte é mais Português que Portugal.

As minhotas são as raparigas mais bonitas do País.

O Minho é a nossa província mais estragada e continua a ser a mais bela.

As festas da Nossa Senhora da Agonia são as maiores e mais impressionantes que já se viram.

Viana do Castelo é uma cidade clara. Não esconde nada. Não há uma

Viana secreta. Não há outra Viana do lado de lá. Em Viana do Castelo

está tudo à vista. A luz mostra tudo o que há para ver. É uma cidade

verde-branca. Verde- rio e verde-mar, mas branca. Em Agosto até o

verde mais escuro, que se vê nas árvores antigas do Monte de Santa

Luzia, parece tornar-se branco ao olhar. Até o granito das casas.

 

Mais verdades.

 

No Norte a comida é melhor.

O vinho é melhor.

O serviço é melhor.

Os preços são mais baixos.

Não é difícil entrar ao calhas numa taberna, comer muito bem e pagar  uma ninharia.

Estas são as verdades do Norte de Portugal.

 

Mas há uma verdade maior.

É que só o Norte existe. O Sul não existe.

As partes mais bonitas de Portugal, o Alentejo, os Açores, a Madeira, Lisboa, et caetera, existem sozinhas. O Sul é solto. Não se junta.

Não se diz que se é do Sul como se diz que se é do Norte.

No Norte dizem-se e orgulham-se de se dizer nortenhos. Quem é que se identifica como sulista?

 

No Norte, as pessoas falam mais no Norte do que todos os portugueses juntos falam de Portugal inteiro.

Os nortenhos não falam do Norte como se o Norte fosse um segundo país.

Não haja enganos.

Não falam do Norte para separá-lo de Portugal.

Falam do Norte apenas para separá-lo do resto de Portugal.

Para um nortenho, há o Norte e há o Resto. É a soma de um e de outro que constitui Portugal.

 

Mas o Norte é onde Portugal começa.

Depois do Norte, Portugal limita-se a continuar, a correr por ali abaixo.

Deus nos livre, mas se se perdesse o resto do país e só ficasse o  Norte, Portugal continuaria a existir. Como país inteiro. Pátria  mesmo, por muito pequenina. No Norte.

Em contrapartida, sem o Norte, Portugal seria uma mera região da Europa. Mais ou menos peninsular, ou insular.

 

É esta a verdade.

Lisboa é bonita e estranha mas é apenas uma cidade. O Alentejo é  especial mas ibérico, a Madeira é encantadora mas inglesa e os Açores são um caso à parte. Em qualquer caso, os lisboetas não falam nem no Centro nem no Sul - falam em Lisboa. Os alentejanos nem sequer falam do Algarve - falam do Alentejo. As ilhas falam em si mesmas e naquela entidade incompreensível a que chamam, qual hipermercado de mil misturadas, Continente.

 

No Norte, Portugal tira de si a sua ideia e ganha corpo. Está muito estragado, mas é um estragado português, semi-arrependido, como quem não quer a coisa.

O Norte cheira a dinheiro e a alecrim.

O asseio não é asséptico - cheira a cunhas, a conhecimentos e a arranjinho. Tem esse defeito e essa verdade.

Em contrapartida, a conservação fantástica de (algum) Alentejo é impecável, porque os alentejanos são mais frios e conservadores (menos portugueses) nessas coisas.

 

O Norte é feminino.

O Minho é uma menina. Tem a doçura agreste, a timidez insolente da mulher portuguesa. Como um brinco doirado que luz numa orelha pequenina, o Norte dá nas vistas sem se dar por isso.

As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos.

Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas.

Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas, graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade. Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito.

Gosto das pequeninas, com o cabelo puxado atrás das orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos brincos, dos sapatos, das saias. Gosto das burguesas, vestidas à maneira, de braço enlaçado

nos homens. Fazem-me todas medo, na maneira calada como conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas.

 

São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem. As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer. Em Viana, durante as festas, são as senhoras em toda a parte. Numa procissão, numa barraca de feira, numa taberna, são elas que decidem silenciosamente.

Trabalham três vezes mais que os homens e não lhes dão importância especial. Só descomposturas, e mimos, e carinhos.

 

O Norte é a nossa verdade.

 

Ao princípio irritava-me que todos os nortenhos tivessem tanto orgulho no Norte, porque me parecia que o orgulho era aleatório.

Gostavam do Norte só porque eram do Norte. Assim também eu. Ansiava por encontrar um nortenho que preferisse Coimbra ou o Algarve, da maneira que eu, lisboeta, prefiro o Norte. Afinal, Portugal é um caso muito sério e compete a cada português escolher, de cabeça fria e

coração quente, os seus pedaços e pormenores. Depois percebi.

Os nortenhos, antes de nascer, já escolheram. Já nascem escolhidos.

Não escolhem a terra onde nascem, seja Ponte de Lima ou Amarante, e apesar de as defenderem acerrimamente, põem acima dessas terras a terra maior que é o "O Norte".

Defendem o "Norte" em Portugal como os Portugueses haviam de defender Portugal no mundo. Este sacrifício colectivo, em que cada um adia a sua pertença particular - o nome da sua terrinha - para poder pertencer a uma terra maior, é comovente.

 

No Porto, dizem que as pessoas de Viana são melhores do que as do Porto. Em Viana, dizem que as festas de Viana não são tão autênticas como as de Ponte de Lima. Em Ponte de Lima dizem que a vila de Amarante ainda é mais bonita. O Norte não tem nome próprio. Se o tem

não o diz. Quem sabe se é mais Minho ou Trás-os- Montes, se é litoral ou interior, português ou galego? Parece vago. Mas não é. Basta olhar para aquelas caras e para aquelas casas, para as árvores, para os muros, ouvir aquelas vozes, sentir aquelas mãos em cima de nós, com a

terra a tremer de tanto tambor e o céu em fogo, para adivinhar.

 

O nome do Norte é Portugal. Portugal, como nome de terra, como nome de nós todos, é um nome do Norte. Não é só o nome do Porto. É a maneira que têm de dizer "Portugal" e "Portugueses". No Norte dizem-no a toda a hora, com a maior das naturalidades. Sem complexos e sem patrioteirismos. Como se fosse só um nome. Como "Norte". Como se fosse assim que chamassem uns pelos outros. Porque é que não é  assim que nos chamamos todos?"