sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Leonard Cohen -10.09-10


Leonard Cohen no Pavilh�o Atl�ntico: O profeta intemporal
Marco Moutinho

Podendo ser a despedida definitiva de Leonard Cohen dos palcos portugueses, o concerto no Pavilh�o Atl�ntico foi uma visita � sua longa carreira como cantor mas tamb�m como romancista, poeta, compositor, marido, pai e homem. Um concerto que soube tocar o �mago dos sentimentos e explor�-los de forma eloquente e perspicaz.
Por natureza, por carreira, por outro motivo n�o determinado, a voz misteriosa de Leonard Cohen � admirada, compreendida e vivida ano ap�s ano, sem cansar como se de um profeta se tratasse. Este concerto, o terceiro no mesmo n�mero de anos, foi constitu�do por duas partes m�gicas, mas distintas, e tr�s encores.
A primeira parte do concerto foi mais est�tica e melanc�lica. Leonard Cohen, ainda de poucos sorrisos, fez-nos meditar, lembrando os seus tempos de Budista. �Who By Fire� surpreendeu com um incr�vel instrumental de Javier Mas, dono de uma guitarra de doze cordas, e de uma mestria na utiliza��o da mesma, arrepios e emo��o que transpirava! Destaque ainda para �Chelsea Hotel� num arranjo bem desenhado, tornando o tema mais belo que o original. Leonard Cohen, senhor em todos os sentidos, tirava o chap�u no final de cada musical em agradecimento aos aplausos. No final da primeira metade do espect�culo, Cohen apresentou prolongadamente todos os m�sicos e f�-lo com imensa devo��o e admira��o fazendo recordar E�a de Queir�s na sua t�o c�lebre descri��o do pal�cio Ramalhete n`�Os Maias�.
Depois de um intervalo, uma segunda parte, mais din�mica e festiva, na qual foram interpretados os maiores sucessos de um Cohen agora sorridente. �Hallelujah� e �I`m your Man�, como esperado, foram recebidos em apoteose. Contudo, o tema �Boogie Street� destacou-se dos restantes, cantado pelas vozes sensuais e doces de Sharon Robinson e as sublimes Webb Sisters, um coro irrepreens�vel, com Cohen a cantar como segunda voz. Em Cohen, a paz perdura, subsiste ao tumulto das massas e tranquiliza-as. Dem�nios da juventude s�o aglutinados pela profundeza majestosa da sua voz, r� de uma sabedoria buc�lica.
Os encores ser�o recordados pelos solos de Roscoe Beck, director musical da banda e baixista, o �pastor� da precis�o Rafael Gayol, na bateria e percuss�o e ainda Neil Larson no fant�stico teclado Hammond B3. Incompreendida a permanente e cont�nua entrada e sa�da de pessoas no Pavilh�o Atl�ntico, reflexo talvez do h�bito de concertos muito mais curtos.
Quase quatro horas de concerto, composto por um equil�brio quase perfeito entre temas melanc�licos e prazenteiros, pautados por discursos imponentes e arrepiantes e alimentados, por uma banda que se nota escolhida a dedo e uma equipa de som que est� de parab�ns. J� h� muito tempo que o Pavilh�o Atl�ntico n�o se fazia ouvir t�o bem. Se o concerto podia ser melhor? N�o, n�o podia! Normal em concertos deste m�sico que sussurra, h� cerca de 40 anos, aos nossos ouvidos; �I`m Your man� com um esp�rito que revela ainda muito amor para dan�ar, como diz: �Dance Me to the End of Love�.



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